Sunday, November 11, 2007

Reclamações e retratações

O futuro do Brasil!
Meu papel:
"Consiste a minha primordial ambição em vos dar exemplos e conselhos que vos façam úteis à vossa família, à vossa nação e à vossa espécie, tornando-vos fortes, bons, felizes. Se de meus ensinamentos colherdes algum fruto, descançarei satisfeito de haver cumprido a minha missão." (Afonso Celso)


O papel de vocês;
"Que a vossa geração exceda a minha e as precedentes" (Afonso Celso)

Que o ping-pong que os diverte, e às vezes, os afasta das aulas ("Para se inscrever é só procurar o #%*!@# da *&$##.Ele sempre está lá no ping-pong, né? rs") não os faça esquecer do leite, que às vezes, afasta as crianças da morte.

PS: "Poxa professor, falando assim o senhor me faz sentir até mal..."


Bem.....

Era essa a intenção.

Pedido de Desculpas
"Que o ping-pong que os diverte, e às vezes, os afasta das aulas ("Para se inscrever é só procurar o #%*!@# da *&$##.Ele SEMPRE está lá no ping-pong, né? rs") não os faça esquecer do leite, que às vezes, afasta as crianças da morte." (destaque meu)
Rafael e Renan,
Peço desculpas pelo fato de ser generalizador. Os dois foram meus alunos e, no pouco tempo que tivemos contato, pude desenvolver um grande respeito pelos dois. Infelizmente, se dissesse nomes dos alunos que se furtam às suas responsabilidades, estaria sendo acusado agora, provavelmente não por vocês, de estar desmoralizando o aluno.
Dirigindo-me mais diretamente ao Rafael, realmente, sua conduta em sala não me deixa mentir, nem teria porque, visto que sempre teve postura correta em sala, bem como muitos alunos que vejo jogando ping-pong e que, durante o horário de aula, vejo sempre em sala. Cabe ressaltar aqui que a frase acima, não foi escrita por mim, mas por um aluno. Visando preservar o aluno citado, bem como o que citou, - visando evitar possíveis constrangimentos, o que talvez não fosse necessário (visto o "rs", risinho, presente na afirmação supracitada) nem mencionei a fonte.
Quanto a discutir política Renan, a discuto sempre:
1. Ao discutir a problemática da relação entre senhor de escravo e escravo, do preconceito inerente a isso, visível na valorização do trabalho intelectual e desvalorização do trabalho braçal, visível ainda hoje na forma como ALGUNS alunos sujam as salas aumentando a carga de trabalho de nossos funcionários;
2. Ao discutir o preconceito religioso na Reforma, a soberba que marcou a Igreja Católica, tida como verdadeira, única, superior, soberba essa presente entre ALGUNS alunos que defendem slogans como "Ih, foi mal, a minha é federal";
3. Ao discutir a política educacional de nosso país pelo fato de se investir uma soma considerável em uma escola técnica quando MUITOS (não todos) entram para a mesma, declaradamente, sem nem mesmo ter a intenção de cursar o técnico;
4. Ao incentivar o patriotismo (e não o nacionalismo puro, ingênuo, xenófobo, etc.) e mostrar a importância de se valorizar o Brasil, de nos tornarmos cidadãos dignos capazes de melhorá-lo, enquanto ALGUNS alunos se vangloriam publicamente de colar nas provas;
5. Ao tentar demonstrar com a minha conduta em sala de aula, cumprindo meu papel como professor, enquanto que ALGUNS alunos que se preocupam mais com ativismo político se esquecem que para se fazer política estudantil, tem que se ser estudar;
6. Ao defender os ideais de igualdade, que deveriam ser estampados em nosso uniforme, igualando todos os alunos como "cefetianos", enquanto ALGUNS alunos procuram formas de se diferenciar de seus colegas utilizando calças mais transadas, tênis da moda, etc.;
7. Ao falar da exploração colonial enquanto que ALGUNS alunos, que às vezes podem se sentir "colônia" do Maracanã rabiscam, arranham, quebram carteiras financiadas com dinheiro público de todo o CEFET/RJ.
Quanto às suas frases - antes de qualquer coisa:

"Realmente eu nunca ví nenhum professor meu (exceto o Marcus, de Geografia e os de Química), a parar a aula pra deixar a turma pilhada realmente a ir para as ruas protestar, para lutar pelos direitos."
Fico feliz por ver que há colegas que incentivam a mobilização estudantil, isso é positivo e necessário. Eu não sou capaz disso. É da minha natureza. Acho que tento conscientizar os alunos, com o meu exemplo e cobrando deles dedicação, seriedade, postura, etc. Essas características também não fazem um cidadão? Particularmente, e aí vai um comentário pessoal, evito ao máximo qualquer conflito. Agora, pode confirmar com os alunos desse ano se não os incentivei a lutar por seus direitos, se não os incentivei a votar, se não disse que procurassem se informar sobre os candidatos - sem em nenhum momento apoiar alguém (como, teoricamente, sou formador de opinião, sou contra se apoiar candidato publicamente).
Quer um exemplo do que é mobilização pra mim?
A. Convocar todos os alunos da comunidade para mandar e-mails para aqui ou para ali exigindo passe-livre;
B. Fazer uma lista e, a cada dia, um aluno diferente ligar para um jornal ou rede de televisão informando sobre a situação caótica da Baixada;
C. Sugerir aos alunos vestir com orgulho a camisa do CEFET e questionar porque as camisas (nem posso dizer uniforme...) das UnEDs vêm escrito "Maria da Graça" e "Nova Iguaçu", enquanto que as dos alunos do Maracanã só vem escrito CEFET/RJ.

Sabe por que não incentivo nada disso? Porque não consigo mobilizar o aluno para:
1. Chegar no horário da aula, horário que ele, ao entrar para o CEFET, se comprometeu a cumprir;
2. Não conversar em sala, desrespeitando o outro que tem dúvida;
3. Desligar e/ou não atender seu celular em sala (por que não pedir, discretamente, ao professor para beber água e retornar a ligação depois?), desrespeitando os colegas e a mim;
4. Perceber que é errado ele ficar carregando o celular dele na sala de aula (se eu ligasse uma tomada na casa dele, isso configuraria "gato", não é?).

Mesmo sem conseguir, não desisto. Minha luta política não é travada na rua, é na sala de aula.

Realmente, você está certo quando diz:
"Até parece que vocês deixaram os seus mestrados, seus domingos em família ou seus estudos mais interessantes de lado para irem para às ruas (não protestar e sim exigir) contra a impunidade, contra a corrupção e contra todas as falcatruas do governo que GERAM JUSTAMENTE ESSA NECESSIDADE DE NÓS, CIDADÃOS HONESTOS E QUE PAGAM IMPOSTOS, TERMOS QUE FAZER O QUÊ O GOVERNO DEVERIA FAZER, em outras palavras, DAR LEITE PARA AS CRIANÇAS QUE NÃO TEM COMO PAGAR."

Não deixaria meu mestrado para fazer passeata, pois, ao assinar minha inscrição, tinha assumido um compromisso com a instituição que me aceitou e deveria honrá-lo. Atualmente vivo o conflito entre ter que dosar, da melhor forma possível, minha vida pessoal, acadêmica e profissional; como o cobertor é curto, principalmente para mim que sou desorganizado (deveria estar redigindo um texto para meu orientador, mas estou aqui porque, nesse momento, minha obrigação como professor me parece mais importante).

Da mesma forma, não faltaria aos meus domingos em família porque minha família era composta de pessoas semi-alfabetizadas e de idade avançada que, com muito custo e sacrifício, conseguiram me dar uma vida de certo luxo e com condições de ir a uma escola particular, de ter explicador quando tinha dificuldade e de poder estudar inglês.
Também não deixaria os meus estudos mais interessantes de lado pois foram eles que me deram a cultura que possuo e que, mais de uma vez, foi motivo de orgulho para mim quando:
A. um aluno vinha me perguntar como poderia ficar tão culto quanto eu (e eu, de forma um tanto tímida, tentei lhe dar alguns conselhos);

OBS: Quando, às vezes brinco, que sou inteligente, que sou isso sou aquilo, meu objetivo é muito mais o da brincadeira, o da descontração. Conheço pessoas, possuo amigos que são muito mais capazes do que eu, porém enfatizar isso nesse mundo competitivo seria visto pela maioria dos alunos não como humildade, mas como sinal de fraqueza.

B. uma aluna veio me pedir uma lista de livros (romances, comédias, qualquer coisa) para ler que pudesse ser útil para saber mais;
C. um aluno, que não tinha mais caderno nem caneta e tive que lhe dar os que tinha recebido da escola, me disse que eu era um homem bem sucedido pois tinha cultura e cargo público; isso meses antes dele me agradecer por tê-lo encaminhado para uma entrevista de emprego (emprego esse que, infelizmente, acabou levando-o a abandonar a escola para garantir seu sustento).

Felizmente, tenho outros momentos felizes que guardo com carinho no meu coração e que me deixam com a sensação do dever cumprido. Posso ser medíocre, não ser ambicioso e não sonhar alto. Diferentemente de muitos professores de História, posso não incentivar a revolução. Peço desculpas por isso. Meu trabalho é de formiguinha. É acordar antes das cinco da manhã para estar em sala às 07:20 e tentar mostrar ao aluno que devemos tentar honrar nossos compromissos. Nem sempre podemos, afinal somos humanos e temos falhas; um dia todo mundo se atrasa. Mas pelo menos "tentar honrar".

OBS: Cabe aqui destacar que não sou nenhum exemplo de perfeição. Já cometi, e às vezes, cometo erros graves. Já magoei e feri. Já fui incorreto e injusto. Já fui cruel e sádico. Tenho meu lado sombrio como todos nós. Como ele me assombra sempre, vivo, atormentado pela minha consciência, sempre tentando não errar de novo e tentando acertar mais uma vez. "O Homem está condenado a ser livre". Essa frase de Sartre nos diz bem que devemos viver com as conseqüências do que fazemos.

Quanto à corrupção, o fato de pagarmos impostos e não haver leite, etc., concordo com você. Em verdade, sou contra qualquer tipo de assistencialismo. Mas a caridade não é assistencialismo. Agora penso que fiz mal em escrever aquela última mensagem antes dos comentários de vocês, afinal, ninguém é obrigado a ajudar ninguém. Como falei outro dia, nessa semana, em sala, estou tão "contaminado" pela hipocrisia quanto as outras pessoas - eu também passo para o outro lado da calçada quando vejo um pedinte ao longe.

E isso me enoja.

Me faz sentir ódio de mim mesmo.

Por isso vi, na campanha do professor Wagner, uma pequena possibilidade de redenção, uma pequena chance de acalmar a minha consciência. Fiz mal, agora tenho certeza, pois julguei ser obrigação de todos uma responsabilidade que pensei ser minha. Não vai aqui nenhum duplo sentido, ambiguidade, ironia, em minhas palavras. Muitos de vocês já contribuem muito para o mundo sendo bons filhos, bons alunos, etc.

Peço desculpas, me dei conta de que caridade se dá, não se exige . Aproveito aqui para agradecer às 17 pessoas que, além de mim e do professor Wagner, fizeram suas doações. Na minha raiva pelo que julguei, equivocadamente, ser obrigação de todos, esqueci a boa vontade de alguns.

MUITO OBRIGADO! \o/

Lamento que, por ter que generalizar, tenha ofendido (sem intenção) alunos pelos quais tenho o maior respeito. Isso ocorreu porque, pela dureza das minhas palavras, vocês que possuem uma consciência moral (meus alunos de Fundamentos de Filosofia e Sociologia irão entender, espero) se sentiram ultrajados, com razão. Infelizmente, aqueles que se perdem em no mero descaso, ativismo, deboche, não devem ter feito caso de minhas palavras; provavelmente riram, como devem estar rindo, pensando que perdi um tempo enorme escrevendo isso. Isso ocorre porque, talvez, não tenho a sua sensibilidade moral (meus alunos de Fundamentos de Filosofia e Sociologia irão entender, espero) desenvolvida.

Como, da mesma forma que em outra comunidade, escrevi coisas que ofenderam outras pessoas ( http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=115678&tid=8273597 ), retiro-me dos debates, limitando-me ao acompanhamento dos mesmos.

Obrigado pela atenção.
Professor André.

1 comment:

Alexei Fernandes said...

. Quando li este post, guardei em minha memória a citação de Sartre como tendo sido: "o inferno são os outros" (RS RS RS), quando - verifico agora ter sido: "O Homem está condenado a ser livre".
. Sartre é, existencialmente, "o homem das possibilidades": a consciência é o "nada", é apenas a possibilidade de sermos o que pretendermos. O "ser" é como nos apresentamos - e nos apresentamos sempre ao outro.
. Quando alguém esquece - ou abre mão - das possibilidades de "ser"(de se apresentar como realmente é), se torna objeto do olhar do outro.
. O nome disso é "má-fé": agir de modo que o outro me rotule, reforçando justamente o que não sou. Permitir que quem dê significado à minha vida seja o outro.
. A consciência, para Sartre, é o "nada", porque: ao mesmo tempo em que tenho consciência de estar sendo alguma coisa, também estarei tendo a consciência de que estar deixando de ser muitas outras coisas. A consciência se restringe, se limita, na medida em que somos ou deixamos de ser: ela não é nada "em-si".
. "O inferno são os outros" quando estamos vivendo o auto-boicote (a má-fé), a não priorização de ser o que quero ser "aqui".
. Quando você diz que "O Homem está condenado a ser livre", está abrindo a aceitação de ser "para-si" - e não mais "em-si" (puro objeto referente ao que o outro vê).
. É verdade...
. O homem está condenado a ser livre, mesmo que nesta liberdade entregue suas possibilidades à avaliação/aprovação dos outros.
. A consciência sartreana é dinâmica, ativa,intencional, é apenas uma aparência, ou seja: "só existe na medida em que ela aparece, na medida em que se está 'sendo'."
. P.S.:
Você já viu "NARUTO" (tem no SBT ao meio-dia). É uma grande reflexão sobre assumirmos sermos o que estiver dando para ser, sem remorços, sem culpas, porém, cheios de dúvidas.