Sunday, November 11, 2007

Nós somos a nação!

"Porque me ufano do meu país"
Para quem e para que foi composto este opúsculo

As páginas que aí vão — escrevi-as para vós, meus filhos, ao celebrar a nossa Pátria o quarto centenário do seu descobrimento. Sorri-me a esperança de que encontrareis nelas prazer e proveito.

Consiste a minha primordial ambição em vos dar exemplos e conselhos que vos façam úteis à vossa família, à vossa nação e à vossa espécie, tornando-vos fortes, bons, felizes. Se de meus ensinamentos colherdes algum fruto, descançarei satisfeito de haver cumprido a minha missão.

Entre esses ensinamentos, avulta o do patriotismo. Quero que consagreis sempre ilimitado amor à região onde nascestes, servindo-a com dedicação absoluta, destinando-lhe o melhor da vossa inteligência, os primores do vosso sentimento, o mais fecundo da vossa atividade — dispostos a quaisquer sacrifícios por ela, inclusive o da vida.

Embora padeçais por causa da Pátria, cumpre que lhe voteis alto, firme, desinteressado afeto, o qual, longe de esmorecer, — aumente, quando desconhecido, injustamente aquilatado, ou ingratamente retribuído, e, jamais, em circunstância nenhuma, vacile, descreia, ou se entibie.

Mas cumpre igualmente que não seja um amor irrefletido e cego, e sim raciocinado, robustecido pela observação, assente em sólidas e convincentes razões.

Não deveis prezar a vossa terra só porque é vossa terra, o que, aliás, bastaria. Sobejam motivos para que tenhais também orgulho da vossa nacionalidade. A natureza não constitui o seu exclusivo e principal título de vanglória.

Ousa afirmar muita gente que ser brasileiro importa condição de inferioridade. Ignorância, ou má fé! Ser brasileiro significa distinção e vantagem. Assiste-vos o direito de proclamar, cheios de desvanecimento, a vossa origem, sem receio de confrontar o Brasil com os primeiros países do mundo. Vários existem mais prósperos, mais poderosos, mais brilhantes que o nosso. Nenhum mais digno, mais rico de fundadas promessas, mais invejável.

Nas linhas que se seguem procurei demonstrar estes assertos. Não as inspira entusiasmo, mas experiência e estudo. Já me alonguei da quadra em que o entusiasmo domina. Mais de meio caminho da jornada está percorrido. Andei em demoradas viagens por grande extensão do orbe. Tenho lido e meditado muito, tenho sofrido duras decepções.

E me sinto amigo do meu país, cada dia em grau superior ao do antecedente. Em nenhum outro, fixaria de bom grado o domicílio. Peço que me deitem aqui, somente aqui, para o sono supremo.

Quereis saber os fundamentos desse culto? A leitura dos argumentos e fatos, adiante singelamente expostos, vo-lo mostrará.

Avigorai, meus filhos, estes argumentos; juntai novos fatos a tais fatos; propagai-os; cultivai, engrandecei o amor pelo Brasil.

Que a vossa geração exceda a minha e as precedentes, senão em semelhante amor, ao menos nas ocasiões de o comprovar. Quando disserdes: “Somos brasileiros!” levantai a cabeça, transbordantes de nobre ufania. Convencei-vos de que deveis agradecer quotidianamente a Deus o haver Ele vos outorgado por berço o Brasil.

CELSO, Affonso. 1997. Porque me ufano de meu país. Rio de Janeiro: Expressão & Cultura. pp. 25-27.

07 de setembro
Que hoje, ao comemorarmos o 185º ano da nossa emancipação política, as palavras de Affonso Celso sejam para nós um ideal. Ideal ingênuo e criticável talvez, mas não abandonável.
Nós, professores, alunos e funcionários, que trabalhamos em uma instituição federal - que representa a totalidade de nossa nação - devemos tomar essas palavras com ainda maior seriedade.
Não estamos aqui por favor, estamos com um dever, de dar um retorno à sociedade que nos permitiu estar aqui.
Não estamos aqui para mero prazer pessoal, estamos aqui para mostrarmos que somos dignos de aqui estar, quando tantos outros desejariam nosso lugar, mas não podem estar aqui.
Não estamos aqui porque o CEFET é nosso, estamos porque ele é maior do que nós e, ao partirmos ele continuará, ficando-nos a obrigação de ter feito dele algo melhor para nós e para os outros.

Estou no CEFET há mais ou menos um ano.
A cada dia de trabalho produtivo, quando vou embora, muitas vezes digo aos meus colegas de trabalho ou murmuro para mim mesmo: "Ganhamos nosso dinheiro honestamente." Ganhamos nosso dinheiro fazendo o que somos pagos para fazer.
Em cada dia de trabalho improdutivo, quando vou embora, penso em silêncio: "Ganho mais do que outros professores e não consegui cumprir com meu papel." Ganhei meu dinheiro sem merecê-lo, sem ter alcançado meu objetivo da forma que desejava ou deveria.
Conversando com um amigo sobre essas angústias ele me respondeu: "André, isso é besteira. Esse papo de Brasil não existe. O que existe é minha mulher, minha família, meus amigos. O Brasil sou eu."

Concordo só com o final.
O Brasil sou eu, e ele será o que eu fizer (ou não fizer) dele.

1 comment:

Alexei Fernandes said...

. Sua postagem evidencia uma esperança: quem trabalha diretamente pelo Brasil é quem realmente faz (ou deixa de fazer) algo por ele.
. Nós outros...
. AHH... nós pagamos impostos aos responsáveis pelas ações governamentais: pagamos as contas do que é ineficiente e do que é eficiente.
. Não estaremos a fim de celebrarmos a nossa Pátria enquanto ela nos mantiver reféns de seus descasos, desrespeitos, desconsiderações e punições unilaterais.
. Bom para você ser alguém ético, estando numa posição que possibilita o desenvolvimento de nossa Pátria!
. Alguém mais, aí no CEFET, está se habilitando à esta mesma postura e consciência ética?