Sunday, October 29, 2006

Perdão meu pai.

Nessa semana que passou eu participei do 30° Encontro Anual da ANPOCS (24 a 28 de outubro de 2006), em Caxambu (MG), onde apresentei um trabalho no Seminário Temático "ST02 - Culturas jovens urbanas e novas configurações subjetivas".

- Na quinta-feira (26/10/2006) eu assisti à mesa redonda "MR12 - Desafios das Ciências Sociais", coordenada pelo professor Ruben Oliven (UFRGS), tendo como palestrantes Maria Arminda do Nascimento Arruda (USP) e Renato Lessa (IUPERJ).
- Após a realização da mesa redonda participei do fórum "FR02 - Sociologia no ensino médio (ou, o que fazer no dia seguinte?) - uma discussão sobre programas, métodos e recursos didáticos", coordenando pela professora Heloisa de Souza Martins da USP.
- Também assisti à apresentação de trabalhos no "meu" seminário temático tendo
estabelecido contatos importantes para minha pesquisa com colegas com interesses semelhantes, bem como trocado idéias com pesquisadores com estudos diversos.
À noite realizou-se uma festa pela comemoração dos 30 anos da ANPOCS, reunindo a "fina flor" da antropologia, ciência política e sociologia brasileira - a festa, para mim que me considero um pouco "outsider" foi muito interessante para observar os comportamentos de parte da nossa intelectualidade dentro do seu "ambiente natural".
Por volta de meia noite e quarenta, quando estava na pista de dança com Silvana, colega de Tatiana (minha amiga do doutorado lá no Museu Nacional), me lembrei que naquele dia, 26 de outubro, meu pai (falecido no último 15 de abril) faria 81 anos e eu não tinha nem me lembrado. Com isso, me distanciei da agitação e fiquei o resto da festa meditando sobre a sua ausência. Naquele momento me lembrei que minha amiga Liane, cuja mãe falecera em março desse ano, tinha me dito que quando estava triste às vezes relia um e-mail que eu tinha lhe enviado - dizia-se espantada com a minha sensibilidade e que ficava emocionada com minhas palavras.
Procurei o e-mail em minha caixa de mensagense, ao achá-lo, percebi que ele também serviria para mim nesse momento.

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Data: Mon, 20 Mar 2006 03:04:20 +0000 (GMT)
Assunto: Mente plena, mente vazia

"Liane,
te escrevo sem a mínima idéia do que dizer. Isso
ocorre porque nada pode ser dito. Dizer que
compartilha sua dor pode te trazer solidariedade mas
não diminuirá o que sente.
Os dias são sofridos, posso dizer que se tornarão
passáveis, depois serão vistos como aceitáveis até que
se tornem normais.
Nenhum de nós é tão insubstituível que a vida não nos
possa substituir. A morte nos leva nossos entes
queridos e os faz desaparecer pouco a pouco de nossas
vidas.
O que sobra deles? Nada, a não ser a vida que viveram
conosco e que nos fez o que somos. Assim, eles vivem
em nós e em nossas lembranças - cada vez mais
enevoadas e cada vez mais importantes.
Com o tempo eles se tornam mais altos e mais bonitos
do que eram, mas afinal, não era assim que os víamos
quando éramos jovens?
Que a imagem sofrida da sua mãe se apague no devido
tempo e seja substituída pela imagem materna que você
tem dela, e que ela se esforçou por construir.
Um abraço,
André."
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Peço-te desculpas meu pai por ter esquecido do seu aniversário. Irei te visitar essa semana e meditarei um pouco sobre ti. Mais do que tristeza, diminuída por habitar agora em uma casa nova sem tantas lembranças tristes recentes (embora carregue para sempre as memórias felizes do passado), ainda lamento sua morte anunciada e que foi tratada de forma tão descuidada pelos médicos - será que terei melhor sorte.

Um beijo meu pai.