Monday, December 28, 2009

O Jogo da Estrela Solitária do Flamengo.



Ontem, finalmente, pude ver o Zico jogar. Minha lembrança de Maracanã era a de um lugar sujo onde levei tombo ao ir ver Papai Noel trinta anos atrás. Ontem, fui com minha namorada - flamenguista roxa e adrianete (mas que conhece e reconhece o valor do Zico e do pessoal da década de oitenta) - ver o jogo das estrelas.

Sou flamenguista, mas sou ligado ao clube, não ao time: acho esse Adriano um péssimo exemplo e, na minha opinião (igual a de meu pai), esses craques de hoje jogam 10 vezes menos q os craques do passado, ganhando dez vezes mais. Craques de hoje, podem ser, mas como dizia meu pai, não conseguem dar mais do que três toques sem voltar a bola, ou sem erra um passe.

Motivo?

Ninguém quer treinar fundamento, é coisa de mané - só os japoneses (que não tem talento individual) é que devem treinar essas coisas.
O pessoal só quer saber de chegar, dar umas duas voltas no campo e sair jogando. foi-se o tempo em que gnt igual ao Zico ficava cobrando falta até chegar a perfeição - o último foi Marcelinho Carioca.
Futebol arte? talvez...
Artistas da bola? difícil...
Atletas? Hahahaha....

Concordo com o aspecto positivo do lado familiar do Adriano, conheço a Vila Cruzeiro onde ele morou. Acho bonito esse vínculo com as origens.

O que me incomoda nele, é o mesmo que me incomoda em muitos alunos, e o que acho importante em um atleta (não falo jogador, falo atleta!) é o mesmo que acho importante em alunos e em mim mesmo:
seguir as regras, se esforçar sempre, não faltar aos compromissos, ter uma conduta profissional correta.

Para mim, exemplos são/foram: Zico, Roberto Dinamite, Raí, Leonardo, Jorginho, Juninhos (PE e SP), Caio, Charles Guerreiro, Mauro Galvão, Sávio, etc.

Craques e/ou jogadores esforçados queeram conhecidos como exemplos de dedicação ao grupo, que não provacavam brigas, etc.

Jogadores que nunca estariam em meu time: Romário, Edmundo, Renato Gaúcho, Adriano, Ronaldos, Heleno, Garrincha, etc.

Minha concepção é arcaica e equivocada posto que uno atitude profissional com atitude moral e as considero parte do desempenho do atleta.

Muitos desses "craques" de hoje podem ser jogadores, mas poucos são atletas.

Porque não falo em jogador? Porque se diz que o esporte é importante para transmitir valores aos jovens. Que valores alguns jogadores (agora falo jogadores) passam?

Ausência de identdiade/afeto pelo clube (corpo mole, deseinteresse, atrasos);

Mercenarismo (só joga bem se estiver com salário em dia; preferível se recusar a jogar, seria mais digno);

Falta de profissionalismo (atrasos, má forma física);

Postura imprópria para um modelo juvenil (atitudes machistas, misóginas, vidas regadas a álcool e noitadas, comportamento consumista desregrado/ofensinvo e propositalmente explícito)..

Sei que nada disso tem a ver com futebol, por isso, meus parâmetros não são válidos para o mundo real, um mundo meritocrático, onde venceer a qualquer custo é que importa - por isso, esses parâmetros são só meus.

Se tiver algum cometnário, o lerei, mas dependendo do andar da discussão, não pretendo prolongá-la, já que futebol não se discute e já estou cansado de discutir minhas teorias com todos.

PS: O Flamengo pode perder todas as partidas, não ganhar nenhum título, ir a falência, mas ainda assim viverá no coração daqueles que o amam, daqueles que o amam sem motivo para amar, no coração dos verdadeiros flamenguistas. Mais do que torcedo do Flamengo, que muitos são, sou flamenguista.

Thursday, November 19, 2009

Sem jeito mandou lembranças

É, não tenho jeito.

Não quero dizer que não tenho solução, mas sim que muitas vezes não tenho jeito pra certas situações.
Hoje foi uma delas.
Uma turma me fez uma homenagem de despedida. São concluintes e cantaram:
"Eu tenho tanto
Prá lhe falar
Mas com palavras
Não sei dizer
Como é grande
O meu amor
Por você...





E não há nada
Prá comparar
Para poder
Lhe explicar
Como é grande
O meu amor
Por você..."

O que fiz? Sorrir, agradecer, chorar?

Nada disso, continuei guardando meu material de trabalho.

Por quê?

Explicações com livros:
Hagakure

Manual samurai do século XVIII
A idéia de dever, de compromisso, de se dever cumprir as regras é algo caro pra mim. Naquele instante, eu estava preocupado em terminar minha atividade como professor - embora feliz com a homenagem, nem pensei em parar meu serviço.

Raízes

Clássico da historiografia do século XX.
Idéia do homem cordial, inserido nas relações sociais. Muitas vezes sou incapaz de me pensar como indivíduo, me penso apenas na rede. Naquele momento, eu era professor, logo, não podia dar vazão a sentimentos.

Civilização

Obra revolucionária que une História, Psicanálise e Sociologia.
Nesse texto Elias mostra como nosso processo de civilização provoca uma interiorização constante e progressiva. Cada vez mais, lidamos com nós mesmos. gostaria que os alunos entendessem meu ponto de vista, mas são incapazes disso, talvez devido a diferença geracional. O que acontece é que embora goste deles e, por vezes, gostem de mim, parecemos estranhos uns para os outros.

Consumo e Romantismo

Texto de referência em sociologia.
Os protestantes são reprimidos e canalizam isso para o consumo, quem é muito controlado, tem sentimentos até mais intensos do que quem os expõe sempre.
Hoje, eu que tanto ansiava por uma demonstração daquele tipo, não pude corresponder a ela. O sentimento estava lá, mas não podendo ser expressado na sua totalidade.

Paixões e Interesses

Como os interesses, paixões mais fracas, podem nos ajudar a dominar paixões mais fortes. Vivi me preocupando em me controlar, para ter a atitude certa, a ação correta na hora exata. Com isso, me enferrujei um pouco, tenho dificuldade de demonstrar esses sentimentos de tão controlados que são. O que não quer dizer que não haja fogo sob as brasas - a turbulência está lá, sob controle.

Vale ressaltar que há alguns que me entendem. Dois alunos conversaram comigo depois, eles me agradeceram e senti que deixei uma imagem boa para alguns, que algo do que eu disse ficou. Fiquei muito feliz, se morresse ontem, morreria feliz. A vida é feita de pequenas coisas assim, que simbolizam grandes sentimentos.

Mais do que as palavras, foi o reconhecimento implícito nas palavras. Ao falarem comigo depois da aula, os dois sabiam que AÍ eu poderia corresponder, agradecer. Sou assim. Muitas vezes me perguntei: "pq sou errado? pq não consigo demonstrar meus sentimentos? pq não posso ser como os outros?" Hoje, mudo minha pergunta: "pq as pessoas não percebem que expresso meus sentimentos de forma diferente?"

Hoje é tudo tão rápido, não há tempo para se compartilhar, se conhecer. Quanto se perde aí? Será que todos devemos cair no turbilhão de emoções expostas, impensadas? Será que essa é a única forma de ser? Será que todos têm que ser assim? Hoje penso que minha forma de ser é quase uma luta política pelo direito de ser diferente. Se há movimento dos sem terra, movimento negro, movimento homossexual, porque não pode haver um movimento dos circunspectos, introspectivos?

Um breve olhar sobre como penso. Jane Austen me entende:


Um olhar da Jane Austen sobre sentimentos velados:



Apesar do jeito torto que recebi a homenagem, ela foi bem recebida e apreciada, ela irá me nutrir por muito tempo. Por causa dela, uma semana complicada do ponto de vista profissional, até um pouco desestimulante, terminou bem.

Me lembrei de uma frase que sintetiza um pouco do que gostaria de deixar como legado de minha atividade como professor:
"Pode ser que tua sombra deixe marcas no caminho
E os vestígios dos teus atos devolva aos fatos o fascínio"

Monday, November 02, 2009

Entre a cordialidade e a individualidade

Ser um entre muitos, indistinto, irreconhecível, indiferenciável.
Ser um no meio de outros iguais, fazer parte de algo maior, estar integrado a outros.


Ser um indivíduo, um ser autônomo, senhor de si, agente, que faz e acontece.
Ser um indivíduo, um ser independente, só, solitário, que luta só e só depende de si.

Ser um ou outro é difícil. E ser os dois? Ainda mais!

Ansiar por companhia querendo ficar só, querer gozar da solidão sem se sentir sozinho, ser autônomo sem ter que depender apenas de si mesmo, ter liberdade para agir sem ter que se preocupar com os outros - mas como se me preocupo com os outros? Não deveria me preocupar primeiro comigo mesmo? Mas não desejo a companhia do outro? Companhia sim, mas invasão não! Mas não quero me sentir fazendo parte de algo, da vida do outro? Não é isso uma invasão?

Perguntas, perguntas, tão poucas respostas... Bauman é que está certo, o mundo escorre em nossas mãos, só nos resta deixá-lo ir, ou tentar agarrar o que pudermos...

Saturday, August 22, 2009

Brüno!

Ontem eu e minha namorada assistimos "Brüno", com o Sacha Baron Cohen, do "Borat". Como um crítico disse bem: ele se pretende iconoclasta, mas só consegue ser de mau gosto. Há críticas ao mundo fashion. às celebridades, etc., mas tudo se esvazia ao se deparar com o pênis falante do personagem - é isso mesmo, escatológico.

Fiquei lembrando que, duas semanas atrás passou "Planeta Proibido" no canal TCM. Insinuações, elipses... O cinema mudou muito em 50 anos - o filme é com Leslie Nielsen (Corra que a polícia vem aí) como galã...

Parece papo de saudosista, mas realmente as concepções sobre o presente, passado e futuro mudam muito rapidamente.

Como o tempo está acelerado, como tudo nasce, amadurece, envelhece, morre e o ciclo recomeça... Quem era revolucionário ontem hoje é político, quem era intelectual de esquerda foi presidente de direita, quem era sindicalista hoje é presidente de esquerda (?)...

As vezes me pego pensando: os tempos de "Brüno" são piores do que os de 10 ou 20 anos atrás? Talvez. Ou será uma questão subjetiva? Uma certa inadaptabilidade com os tempos modernos, um atraso em se acostumar com o mundo atual?

Possivelmente, esse tipo de angústia é fruto de um comodismo pequeno-burguês; será que um bosquímano, preocupado em matar antílope está preocupado com isso? E o mineiro que trabalha sob vigilância nas minas de diamante na África?

Pensar demais às vezes cansa, para esses momentos existe "Brüno", afinal nem sempre se quer ver Win Wenders.

Sunday, April 19, 2009

Números Futuros e Cansaço atual



Esse mês completei 38 anos de vida e 3 anos da morte de meu pai.

Há algum sentido nisso???

Se tivesse me casado aos 18 e tido um filho aos 21, ele agora teria 17 anos.

Será que ainda serei pai???

Uma vez disse para uma amiga (quando meu pai faleceu): "Deixei de ser filho sem ser pai".

38
39
40

Se tiver um filho hoje, ele terá 12 quando eu tiver 50 anos.

A partir dos 40 tenho que fazer exame de próstata.
A partir dos 50 a chance de enfarte é maior.

É ela?
É ela que está chegando???
"André... Me aguarde... Vamos nos encontrar em breve"

Minha vontade é correr, fugir!!!
Mas meu corpo aguenta?

Estou meio melancólico. Quem se lembrará de mim???
Se passo dias sem lembrar de meu pai, quem se lembrará de mim???

Será que há algo além?
Dá vontade de descobrir uma forma de viver pra sempre...
Tanto estudo, faculdade, mestrado, doutorado,... para alimentar os vermes???

Cansado... Gostaria de dormir, dormir, dormir,dormir, dormir, dormir...
Mas isso não adianta, afinal, ao acordar tudo recomeça: trabalho, estresse, etc.

Tinha planejado um 2009 diferente, pós-tese, mas ele está bem parecido como 2008, pré-tese.

Vontade de quebrar tudo!
Falta de disposição.....
De certa forma, estou um pouco morto. Gostaria de ressucitar, mas tudo me parece tão difícil e/ou sem sentido...

Daqui a pouco vou deitar para acordar amanhã e ir trabalhar - tomara que eu acorde!!!



Camila, Camila...

Camila, Camila (Nenhum de Nós - Composição: Thedy Corrêa - Sady Homrich - Carlos Stein)

Depois da última noite
De festa
Chorando e esperando
Amanhecer, amanhecer...

As coisas aconteciam
Com alguma explicação
Com alguma explicação...

Depois da última noite
De chuva
Chorando e esperando
Amanhecer, amanhecer...

Às vezes peço a ele
Que vá embora
Que vá embora
Oh!...

Camila! Ah!
Camila! Camila!...

Eu que tenho medo
Até de suas mãos
Mas o ódio cega
E você não percebe
Mas o ódio cega...

E eu que tenho medo
Até do seu olhar
Mas o ódio cega
E você não percebe
Mas o ódio cega...

A lembrança do silêncio
Daquelas tardes
Daquelas tardes...

Da vergonha do espelho
Naquelas marcas
Daquelas marcas...

Havia algo de insano
Naqueles olhos
Olhos insanos, oh!
Os olhos que passavam o dia
A me vigiar, ah!
A me vigiar, ah!
Oooooh!...

Camila! Ah!
Camila! Camila!
Camila! Ah! Oh!
Camila! Camila!...

E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava a minha cabeça prá tudo
Era assim que as coisas
Aconteciam
Era assim que eu via
Tudo acontecer...

E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava minha cabeça prá tudo
Era assim que as coisas
Aconteciam
E era assim que eu via
Tudo acontecer...

Camila! Ah! Oh
Camila!
Camila! Ah! Oh!
Camila! Ah! Camila!...

Ooooooooh!

"E eu que tinha apenas 17 anos"
Quando essa música foi lançada, eu tinha 17 anos.
Isso foi a mais de 20 anos...
Quanta gente já viveu e morreu...

Por que ainda estou aqui?
Por quanto tempo mais?


Quando ouvi essa música a primeira vez, eu ficava pensando que já tinha vivido 1/4 da minha vida...

Já passei desse 1/4, já estou chegando a 1/2, em breve faltará 1/3, 1/4, 1/5, 1/6...
Quando menos esperar... Terei ido, serei lembrança, serei apenas um nome, um blog abandonado, um email superlotado, um site sem visitas, um orkut cheio de spams...

Será apenas isso o que sobrará de mim???

Tuesday, January 13, 2009

Pergunta sobre o jovem pós-1985

Uma pessoa me perguntou sobre a juventude atual, de que forma ela foi afetada pelo controle da indústria cultural pela ditadura. Também me perguntou sobre como isso era tratado pela História, em sala de aula.
Começarei respondendo a segunda pergunta. Geralmente não damos muita atenção a isso. Por quê? Não é alienação, mas sim calendário curto. É difícil chegar nesse momento mais recente, já que o conteúdo é enorme, e sempre aumenta. Também, esse não é um ponto muito enfatizado pelos livros, ainda mais com a preocupação com o vestibular. Porém, sua pergunta me deixou insatisfeito e tentarei enfatizar mais essa questão.
Quanto a primeira pergunta, não acho que a indústria cultural tenha mais força no Brasil do que em outros países, também não penso que ela 'modelo' de forma absoluta o cidadão – o consumidor já são outros 500, mas mesmo assim, seu poder não é total. Agora, concordo que a família e, principalmente a escola (em parte por deficiências nossas, dos professores, mas principalmente devido a sua estrutura rígida), estejam em desvantagem.
Porém, acho que a luta não é tão desigual, falta a família se reinventar para atender às demandas de seus filhos. Os filhos também deveriam tentar se adaptar um pouco às demandas dos pais, uma troca, com concessões mútuas – essa coisa de jovem rebelde, pra mim é um saco – como a mídia se reinventa para atender seu consumidor.
Ditadura cultural desde 64? O cinema estadunidense já era uma força aqui nos anos 30 e 40 e também é válido lembrar que dois grandes movimentos contestatórios: a Tropicália e a Jovem Guarda (gostando ou não foi contestador, do ponto de vista dos costumes), se deram nos anos pós-64. É claro que com problemas de censura, que também sofreu o tão incensado Cinema Novo, importantíssimo! Do ponto de vista artístico e quase sem repercussão popular, que preferia as chanchadas (que hoje são resgatadas).
Abro parênteses: Na minha opinião, o Cinema Novo chegou a ter um certo efeito nocivo, ao estabelecer o filme cabeça como parâmetro de filme nacional, o que só foi rompido com a 'retomada' dos anos 90, a qual tentou conciliar proposta com público – os filmes cabeça podiam ser feitos pq contavam com verba da EMBRAFILME, a qual era braço da ditadura! Os caminhos são mais tortuosos do que pensamos... Fecho parênteses
Quanto a eficácia da dominação pela mídia, concordo que tem papel fundamental. Hoje é difícil saber o que se deve e se pode saber. Há overdose de informação e pouca condição de análise.
Quanto a uma continuação da ditadura, acho que há continuidades e rupturas. Continuamos desejando um Estado que cuide de nós, que nos proteja e que tome as decisões para que possamos nos preocupar com outras coisas – basta citar a polêmica na comunidade sobre palavrões, chat, etc. Houve quem defendesse um professor como moderador: “assim o pessoal vai respeitar mais”. É atitude característica da democracia liberal: “quero liberdade, sou contra o autoritarismo; agora, se a liberdade do outro começar a me incomodar, prefiro o autoritarismo pra colocar ordem”. Da mesma forma, há rupturas, como a valorização da democracia e da liberdade, porém, interpretadas como contestação, oposição. Me lembro de um major que comentou que ficou 2 horas esperando para falar com um deputado e que, quando reclamou, recebeu essa resposta: “isso é por causa do qeu vocês fizeram comigo” e o major respondeu: “se o senhor está se referindo à ditadura militar, pode saber que tenho 42 anos e que, em 1964 eu tinha 4 meses de idade.”
A ditadura assim tem duas imagens: a lei e a ordem que gostariamos de ter para poder sair a noite, mas também é a lei e a ordem que não nos permitiria beber com menos de 18 anos. Ela é muito mais uma representação do que uma noção real. Acho que os jovens têm muito pouco interesse por ela, em parte por causa da aceleração do tempo. O movimento dos caras pintadas parece jurássico, um de seus líderes é prefeito, e o movimento estudantil parece coisa do Big Bang, um de seus líderes já foi ministro e outro foi ministro e candidato a presidente.
A mulecada de hoje? A busca por exibir a sua autenticidade, mostrar quem realmente são, assumir posições: “sou negro”, “sou gay”, 'sou mau”, “sou patricinha”, “sou funkeiro”, “sou emo”, “sou torcedor de tal clube”, etc.
Será que temos necessidade disso? É um direito de cada um? Sim. Mas a pessoa tem o direito de nos empurrar sua identidade o tempo todo? Falar sobre sua privacidade o tempo todo? Gritar na sala de aula? Falar aos berros no celular no trem? Ficar gesticulando, se manifestando em altos brados no metrô – o que não é permitido (opa! Isso é autoritarismo, não é mais ditadura!), Ficar tirando foto em casamento, festa, etc, passando pra lá e pra cá atrapalhando a cerimônia?
Acho que coloquei mais questões do que respostas a respeito do que os jovens mudaram a partir de 1985. Não acho que os jovens de hoje sejam alienados, egocêntricos. Os acho bem conscientes. Estão conscientes do que é AIDS e preservativo e preferem não usá-lo. Estão conscientes de que beber bebidas alcoólicas com menos de 18 anos é crime, mas preferem beber. Estão conscientes de que devem cumprir regras, mas preferem não cumprir. Estão conscientes de que muitos não cumprem regras, mas que essas pessoas devem cumpri-las se for do interesse deles, jovens.
Acho que os jovens de hoje têm grandes possibilidades, muitas das quais estão distorcidas por falhas dos seus pais, os quais, vítimas da indústria cultural de final da ditadura, influenciada pelo Dr. Spock, o psicólogo, associou trauma/autoritarismo/autoridade e liberdade/liberalidade/democracia. Em parte, isso se deu pelas demandas de mercado, afinal, era mais prático dar liberdade aos filhos do que controlá-los - “não sei onde meu filho está, confio nele” / tempos depois: “meu filho? Envolvido com drogas? Eu não sabia.”
Acredito que a família está se reestruturando e que isso talvez leve a transformações futuras, quanto ao jovem pós-1985, sei muito pouco, tenho mais perguntas do que respostas.